quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dinheiro Rural destaca entrevista do novo presidente da ABCZ

A edição de outubro/2010 da Revista Dinheiro Rural, traz uma entrevista com o presidente da ABCZ, Eduardo Biagi. A seguir, acompanhe a entrevista na íntegra!




DINHEIRO RURAL: Qual o principal desafio em presidir a maior entidade classista do setor pecuário mundial?

Eduardo Biagi: Os desafios são vários. O principal deles é fazer com que a ABCZ continue contribuindo para o aumento sustentável da produção mundial da carne e leite, através do registro, melhoramento genético e da promoção das raças zebuínas. O pecuarista tem demonstrado nos últimos anos um grande interesse em produzir de maneira sustentável e para nós da ABCZ a melhor forma de alcançar este objetivo é através, sobretudo, do melhoramento genético. Quando você utiliza a tecnologia necessária para a boa condução da pecuária a pasto, antecipa o período de abate e aumenta a produção por área, você consequentemente, caminha para a sustentabilidade do negócio. É nisso que a ABCZ vem trabalhando há anos, e é isso, que vai fazer a pecuária brasileira continuar sendo destaque em todo o mundo. Já somos referência em produção. Em um espaço curto de tempo, o Brasil será reconhecido também como referência em melhoramento genético.

DINHEIRO RURAL: Qual o tamanho do rebanho brasileiro sob responsabilidade da ABCZ?

Eduardo Biagi: A ABCZ é a entidade responsável pelo registro genealógico das raças zebuínas brahman, gir, gir leiteiro, guzerá, indubrasil, nelore, sindi e tabapuã, e ainda de alguns cruzamentos como o tababel e o guzolando. Nela estão registrados os animais que além de terem suas genealogias conhecidas, possuem as características raciais e morfológicas adequadas à sua raça. Atualmente, o rebanho nacional registrado na ABCZ é de aproximadamente 1,5 milhões de animais zebuínos. Quanto ao rebanho comercial, estima-se que no Brasil, aproximadamente 80% do rebanho nacional, tenha algum grau de sangue zebuíno.


DINHEIRO RURAL: Qual a participação das raças zebuínas na produção de carne e leite no Brasil?

Eduardo Biagi: Como disse anteriormente, 80% do rebanho nacional possui sangue zebu. Por isso, boa parte da produção total de carne e leite deriva dessa porcentagem de gado zebuíno. As raças zebuínas com aptidão de corte, especialmente, o nelore contribuem com quase a totalidade do que é produzido no país. Em relação ao leite, sabemos que a contribuição do zebu também é bastante expressiva, graças às raças com boa aptidão leiteira como o gir, o sindi e o guzerá. O gir, em especial, colabora de forma expressiva com a pecuária leiteira uma vez que o cruzamento com o holandês dá origem ao gado girolando, uma raça nacional que apresenta boa produtividade leiteira e adaptabilidade ao clima dos trópicos.

DINHEIRO RURAL: Quais os principais programas da ABCZ?

Eduardo Biagi: Os principais programas da ABCZ convergem para uma das prioridades centrais da entidade, como disse anteriormente: o melhoramento genético. Ano após ano estamos consolidando o Programa de Melhoramento Genético das Raças Zebuínas (PMGZ), ampliando as provas zootécnicas que o compõe, como as provas de ganho em peso e o controle leiteiro. Além disso, estamos promovendo anualmente a ExpoGenética, como uma forma de incentivar o produtor a utilizar os dados científicos gerados pelos programas de melhoramento do Brasil. Outro programa que é prioritário para nós é o Pró-Genética. Através dele, queremos transformar a qualidade dos rebanhos dos pequenos e médios produtores brasileiros, fazendo que as características produtivas do zebu cheguem às pequenas e médias propriedades em maior proporção. Além da melhoria dos produtos gerados por estes produtores, queremos melhorar a renda e a sustentabilidade da atividade.


DINHEIRO RURAL: A ABCZ tem se caracterizado pela implantação de ações conjuntas com associações de raça. Quais as que merecerão destaque em sua gestão?

Eduardo Biagi: Trabalhamos ao lado das associações promocionais, procurando contribuir de todas as maneiras possíveis para que seus objetivos sejam alcançados. Como exemplo, posso citar a realização de exposições especializadas no Parque Fernando Costa, como a Expoinel, no mês de setembro e o Congresso Mundial da Raça Brahman, que será realizado pela primeira vez no Brasil, neste mês de outubro.

DINHEIRO RURAL: Quais as expectativas para a pecuária nacional na próxima década?

Eduardo Biagi: Segundo relatório da FAO e OMC na próxima década o crescimento da demanda mundial de carnes crescerá mais de 23% e espera-se que este aumento de demanda seja atendido por poucos países, principalmente, pelo Brasil. A nossa oportunidade será grande e teremos que trilhar o caminho da profissionalização e da gestão sustentável para bem aproveitá-la.

DINHEIRO RURAL: O que está faltando para a implementação mais eficiente do sistema de rastreabilidade?

Eduardo Biagi: Está faltando racionalidade para implementar um sistema factível dentro das fazendas e que atenda à demanda de nossos clientes. Em um país com dimensões continentais como o nosso e com realidades produtivas tão diferentes, seria preciso um trabalho de orientação junto ao produtor rural, mostrando a importância da rastreabilidade, fazendo-o enxergar as suas vantagens e demonstrando suas recompensas.

DINHEIRO RURAL: Qual o compromisso da ABCZ no desenvolvimento da pecuária verde?

Eduardo Biagi: O compromisso é total. Há alguns anos transformamos a ExpoZebu, maior feira das raças zebuínas, em um palco de discussão da pecuária sustentável. Não só isso. No palco de decisões políticas e sanitárias importantes para a pecuária nacional. Especialmente quanto aos conceitos da pecuária verde, procuramos disseminar informações importantes sobre recuperação de pastagem, melhoramento genético, sistema silvipastoris, entre tantos outros aspectos através dos nossos veículos de comunicação, que são a Revista ABCZ, o ABCZ TV, o site da entidade e o Twitter.

DINHEIRO RURAL: Quais os principais diferenciais de produção com sustentabilidade do rebanho brasileiro em relação ao resto do mundo?

Eduardo Biagi: Os principais diferenciais são a predominância do gado zebu, perfeitamente adaptado ao nosso clima e o sistema de manejo com cria, recria e engorda à pasto. Assim é possível alcançar mais produção de carne e leite com menos uso de produtos químicos, de alimentos concentrados e com produção de carne natural e leite mais saudável.

DINHEIRO RURAL: Qual o posicionamento da ABCZ sobre o novo código ambiental?

Eduardo Biagi: A ABCZ acredita que, não importa as razões que nos trouxeram até a situação atual, que é de total insegurança jurídica no campo. Esta situação precisa mudar e, sem dúvida, o Código Florestal deve ser revisto de forma que adequemos preservação e produção.

DINHEIRO RURAL: Qual a opinião do senhor em relação a campanhas nos moldes realizados pelos supermercados e por alguns frigoríficos, que não compram carne produzida na região amazônica?

Eduardo Biagi: Ao invés de buscarem juntos, a adequação da forma de produção da cadeia produtiva, alguns setores elegem formas mais “simplificadas” para tentar ganhar a confiança do consumidor final. Infelizmente, tais atitudes não resolvem o problema, além de marginalizar a figura do produtor rural, uma vez que a sociedade, por desconhecer o funcionamento do setor, pode ser levada a generalizar a imagem de um setor produtivo que tanto contribui para a economia nacional.

DINHEIRO RURAL: O Brasil vai atingir a meta de se tornar área livre de aftosa com vacinação em 2010?

Eduardo Biagi: Esta meta vem sendo discutida há pelo menos duas edições da ExpoZebu, durante as reuniões do FONESA (Fórum Nacional dos Executores de Sanidade Agropecuária). É uma meta bastante audaciosa, mas necessária. Mesmo que não consigamos alcançar essa meta no prazo determinado, é preciso iniciar o processo ainda que de forma lenta, gradual e segura para se alcançar o status livre sem vacinação. O que a ABCZ defende é que o circuito sul, principalmente os estados do Paraná e rio Grande do Sul, poderiam ser os primeiros a começar este processo e depois partir para outros circuitos, da região sudeste e centro-oeste e posteriormente nordeste e norte.


DINHEIRO RURAL: Recentemente a ABCZ prometeu que iria combater as suspeitas de fraudes em várias exposições no País. Como está esse processo? De fato aconteciam fraudes? Como isso prejudica o mercado brasileiro de gado de elite?

Eduardo Biagi: Estamos buscando uma melhoria contínua no processo de registro e na escrituração zootécnica realizada nas propriedades. Para isso, buscamos realizar auditorias, inclusive, com a contratação da PricewatterhouseCoopers, que tem nos ajudado a implantar diversas melhorias tanto nos processos internos quanto na orientação dos criadores. Os erros encontrados foram tratados segundo o nosso regulamento do Serviço de Registro Genealógico das Raças Zebuínas (SRGRZ), com casos até de cancelamento de registros de animais e advertência aos criadores. O processo terá sequência por considerarmos que ele é de fundamental importância na qualidade do serviço de Registro Genealógico.

DINHEIRO RURAL: Como a ABCZ se faz representar junto ao poder político?

Eduardo Biagi: A ABCZ é uma entidade apartidária. Ao longo dos anos, graças ao trabalho sério da entidade em prol do produtor rural, conseguimos conquistar o respeito político nas várias esferas públicas. Por isso, quando requerem a presença de representantes do setor pecuário em qualquer discussão política, a ABCZ é convidada e se faz presente, seja por meio de sua diretoria ou de seus conselheiros estaduais. Além disso, a própria ABCZ promove reuniões específicas com diversos setores políticos.

DINHEIRO RURAL: A ABCZ tem firmado parcerias com entidades governamentais? Com quem e quais os objetivos?

Eduardo Biagi: A principal parceria da ABCZ é com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, uma vez que executamaos o Serviço de Registro Genealógico das Raças Zebuínas. A parceria é tão valiosa para ambas as partes que, há setenta e cinco anos, vem sendo mantida. Além disso, temos outras parcerias importantes em nível estadual, como o caso das entidades de extensão rural nos estados, como por exemplo, a EMATER/MG, que nos auxilia a desenvolver o Pró-Genética, a Embrapa, além de sindicatos e federações de produtores, etc.

DINHEIRO RURAL: Na área internacional, quais os avanços da ABCZ?
Eduardo Biagi: Nos últimos sete anos, a ABCZ intensificou o trabalho internacional a partir de uma parceria firmada com a APEX Brasil. Estamos divulgando o zebu e as potencialidades da pecuária brasileira para o mundo. Avançamos muito na negociação internacional com vários países, em relação aos protocolos sanitários. Temos em função deste trabalho, um aumento em quantidade e na qualidade de visitantes internacionais, sendo que na última ExpoZebu recebemos mais de 500 visitantes, em sua maioria de empresários rurais e formadores de opinião.


DINHEIRO RURAL: Qual tem sido o posicionamento da ABCZ em relação aos freqüentes embargos que a carne brasileira sofre no mercado internacional?

Eduardo Biagi: Como mais uma tentativa protecionista de segmentos do mercado, que são menos competitivos do que nós.