Temos o que mostrar e vamos fazê-lo
Eduardo
Biagi, presidente da ABCZ
A
nossa passagem pela Rio +20 foi rápida, mas suficiente para deixar uma
impressão positiva. Em um evento grandioso como este, impressionou-me a
participação de um número tão expressivo de autoridades, jornalistas,
representantes de órgãos públicos e empresas privadas de inúmeros países e,
ainda, o interesse da população brasileira por temas tão complexos como
desenvolvimento sustentável e economia verde.
A
representatividade do Agronegócio foi, em minha opinião, um ponto alto da Rio
+20. Há 20 anos, quando a ONU promoveu no Brasil a Eco 92, a pecuária nacional
estava, assim como outros importantes setores da economia, distante dos temas
debatidos na conferência.
Agora,
em 2012, a participação de entidades do Agronegócio no evento, como a ABCZ,
CNA, COSAG/FIESP, ABAG, entre outras, sinaliza uma mudança gradativa do que vem
acontecendo em nosso Brasil rural. Notamos um progresso no entendimento do
pecuarista quanto aos temas que dizem respeito à pecuária e que foram expostos
durante a Rio +20. Estamos vivendo, sem dúvida, um amadurecimento que nos
mostra que não é possível preservar sem produzir e nem produzir sem preservar.
Ao
longo dos últimos anos conseguimos avançar muito e dar início a um processo de
verticalização da produção, baseado em investimentos em gestão, genética,
nutrição e manejo. Ou seja, temos o que mostrar e a Rio +20 foi um espaço
importante para começarmos a fazê-lo.
Por
isso, acredito que a conferência da ONU foi importante para reafirmarmos três
pontos:
O
pecuarista brasileiro tem consciência de seu papel em favor da erradicação da
fome e da pobreza. Para atender a
demanda por alimentos da população mundial, que contará com nove bilhões de
pessoas até 2050 segundo a FAO, a pecuária brasileira tem pela frente o desafio
de dobrar sua produção nos próximos 30 anos, garantindo o acesso de todos a
alimentos nutritivos e incorporando a cultura da sustentabilidade ao seu
sistema produtivo. Para isso, precisaremos de mão-de-obra qualificada e
acreditamos que a pecuária será importante não só para suprir a demanda
alimentar por proteínas nobres, mas também será responsável pela manutenção e
geração de novos empregos e renda em todo o país.
O
pecuarista tem certeza que precisa ser mais eficiente para conseguir sobreviver
na atividade rural. Por isso, estamos
caminhando para uma atividade cada vez mais profissionalizada. Prova disso, é
que ao longo dos últimos anos, de forma moderna, competitiva e sustentável, a
pecuária brasileira vem se consolidando entre as mais eficientes na produção
mundial de carne e leite. Tendo as raças zebuínas como a base do seu rebanho,
estamos alcançando, através da tecnicidade e profissionalização, índices
significativos de produtividade.
O pecuarista sabe que é necessário investir em técnicas de produção mais eficientes e menos impactantes. Com isso, o país começa a traçar uma nova realidade para a atividade. As políticas públicas para uma agropecuária de baixo carbono, juntamente com o compromisso dos pecuaristas de implantação de boas práticas nas propriedades rurais, são prioridades na agenda de trabalho do setor.
Neste
documento, a ABCZ tocou em pontos cruciais para o futuro do setor, como a
redução das emissões de Gases de Efeito Estufa, a influência do melhoramento
genético do rebanho bovino na construção de uma atividade mais sustentável, os
benefícios da integração lavoura-pecuária-floresta. Citamos ainda a importância
da necessidade de um maior equilíbrio ambiental nas pastagens, com maior
interação, por exemplo, entre árvores e bovinos.
Enfim,
o resultado final da Rio +20 é positivo, mas não pelo evento em si. É positivo
porque hoje vemos ações mais concretas no sentido de promover uma produção
ecologicamente correta, socialmente justa e economicamente viável, que é a
tradução da expressão sustentabilidade. Para os próximos 20 anos,
espera-se que estas ações tornem-se práticas mais comuns entre os colegas
pecuaristas, uma vez que o sucesso da atividade dependerá decisivamente da
forma como o produtor trabalhará o equilíbrio entre os aspectos ambiental, social
e econômico.